quarta-feira, 22 de julho de 2009

O PAPAGAIO

Os passos pressurosos eram para abreviar o tempo de retorno ao lar. A expectativa em revelar a sua nova aquisição, não desfazia aquele sorriso no rosto. Os transeuntes, curiosos, olhavam-no segurando uma enorme embalagem, cuja proteção plástica, impedia desvendar o seu conteúdo.

Abriu o portão, gritando:

- Benhê! Jonzinho! Nininha!

Os filhos, que brincavam no balanço, correram ao encontro do pai.

- O pai chegou, mãe!

A esposa abriu a porta enxugando as mãos no avental.

- Que gritaria é essa???

- Tenho uma surpresa para vocês. Tenho certeza que irão gostar.

A esposa e os filhos, seguiram-no até o quintal. Ele ordenou-lhes que se sentassem. Depositou o pacote no chão e, segurando a embalagem, puxou-a ligeiramente. Quis semelhar-se com um mágico.

- Tcham! Tcham! Tcham! Tcham! Gostaram?

O filho de três anos, espremeu os olhinhos e questionou:

- Por que o senhor comprou uma galinha, pai?

- Não é uma galinha, filho - disse a mãe com ternura - é um louro.

- Mas ele é verde, mãe... Louro não é amarelo? Indagou a filha.

- É um papagaio - definiu o pai - Pretendo ganhar muito dinheiro com ele. Vou ensiná-lo a falar, a cantar o Hino Nacional... Todos os programas de televisão vão querer entrevistá-lo... Aí eu peço uma grana preta... Vamos ficar ricos! Agora preciso escolher um lugar para ele ficar...

- Que tal ali? Sugeriu a esposa.

Suspenderam a gaiola do bípede emplumado sob o telhado da área de serviço. Naquele mesmo dia, o marido repetiu algumas palavras para a ave, que permaneceu alheia aos ensinamentos.

Meses se passaram e, mesmo com a insistência daquela doutrina, o animal não evoluía. Raramente ouvia-se um curupaco.

- Talvez eu não seja um bom professor! Confidenciou certa vez a um amigo.

- Não é nada disso... já li uma reportagem sobre adestramento de animais... Pra ensinar um bichinho, é necessário que ele receba muito carinho e compreensão.

Naquele dia, o marido voltou decidido a acariciar o papagaio. Certamente o seu amigo estava com a razão. Quem não gosta de um carinho?

- Loro! Curupaco! Começou a falar, abrindo a portinha da gaiola para fazer um cafuné no cocuruto do papagaio. Diga: CO-MI-DA! CO-MI-DA!

O papagaio olhou desconfiado e abriu o bico. "Ele vai falar", pensou. Quando a mão aproximava-se da ave, esta mordeu-lhe o indicador, que só foi liberado depois de um palavrão gritado.

No outro dia, com o dedo enfaixado, encontrou-se novamente com o amigo.

- E aí? Conseguiu fazer o bicho falar?

- Que nada! - Respondeu constrangido - Além de não dizer nenhuma palavra, ainda me fere o dedo.

- Você já reparou que os animais quando obedecem ao dono, recebem alimento? Por que você não faz o mesmo?

- Mas ele não me obedece.

- Então não lhe dê comida até que ele faça o que você quer.

Resoluto, confiou mais uma vez no amigo.

- Loro! Curupaco! Ou você fala alguma coisa ou não lhe dou comida. Entendeu?

O papagaio continuou indiferente diante da ameaça. Entretanto, a partir daquele dia ficou terminantemente proibido a alimentação do animal.

- Quem se atrever a dar comida pro papagaio, vai se ver comigo. ENTENDERAM?

Ninguém se atreveria a contrariar a determinação daquele homem severo, capitão reformado do exército.

Naquela semana o papagaio não foi alimentado.

Certo dia, a mulher varrendo o chão, ouviu uma voz esganiçada e debilitada:

- Co... mi... da!

Olhou para todos os lados mas não havia ninguém. Seus filhos estavam na escola.

- Co... mi... da!

Surpreendeu-se quando percebeu que o papagaio finalmente falava. Jogou a vassoura e correu ao telefone.

- Querido! O papagaio tá falando! Venha depressa!

Estupefata, tanto quanto como quando ouvira a primeira palavra pronunciada por um filho seu, retornou para próximo da gaiola.

- Co... mi... da... Co... mi... da...

O marido entrou correndo e ainda conseguiu ouvir a ave dizer:

- Co... mi... da...

- Traga as sementes de girassol, mulher... Traga o girassol – berrou.

A mulher obedeceu. Porém, quando entregou o pacotinho ainda lacrado ao marido, ouviu o papagaio repetir a palavra e tombar na gaiola.

Era muito tarde. O papagaio havia morrido de fome e destruído o sonho do marido em se tornar milionário.

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