quinta-feira, 28 de agosto de 2014

UM PINGO DE VIDA


Submersa no oceano árido,
a semente secular monologa
sobre a espera interminável:
“É inútil gritar - o mundo é mouco...”

Enquanto o dia aprimora sóis
e a noite superlativa hálitos glaciais,
o desalento se alenta
para o nunca mais.

Quando a sentença parece irreversível,
uma nuvem solitária paira no manto azul
e, infringindo regras,
se metamorfoseia: gota que
e
s
c
o
r
r
e
para embebedar a semente.

A terra estremece!

Na imensidão do nada,
o ímpeto rasga a sepultura
e a vida experimenta, pela primeira vez,
a vida.

O milagre é atemporal.
Não há solo infértil,
há ausência de irrigação.




Maurício Cavalheiro

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