quarta-feira, 1 de outubro de 2014

PRESSÁGIO



A louca
tem cabelos desgrenhados
de algodão sem brilho,
roupa suja, puída,
igual a vida que escolheu.

A última palavra que emitiu
envelhecera há décadas,
agora omite frases, gritos,
declarações tardias
de amor.

Fica horas
na cadeira de balanço
com um sorriso desvalido
recosturando o passado
que rasgara
com o adeus desprecavido.

Não raro,
permite que uma lágrima escorra
pela pele opaca.
(Ela é louca! Quem se importará?)

Não foi a esclerose
que deixou sequela
naquela mão que os olhos plangentes vigiam
diuturnamente.
(Não há atrofia
- como todos acreditam)

A mão fechada
guarda um tesouro,
o elo do arrependimento:
um anel
de compromisso.

Quem sabe o par repouse
em outra mão
com outro louco
que o amor
diagnosticou.



Maurício Cavalheiro – 12/09/2013

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