PRESSÁGIO
A louca
tem cabelos desgrenhados
de algodão sem brilho,
roupa suja, puída,
igual a vida que escolheu.
A última palavra que emitiu
envelhecera há décadas,
agora omite frases, gritos,
declarações tardias
de amor.
Fica horas
na cadeira de balanço
com um sorriso desvalido
recosturando o passado
que rasgara
com o adeus desprecavido.
Não raro,
permite que uma lágrima escorra
pela pele opaca.
(Ela é louca! Quem se importará?)
Não foi a esclerose
que deixou sequela
naquela mão que os olhos plangentes vigiam
diuturnamente.
(Não há atrofia
- como todos acreditam)
A mão fechada
guarda um tesouro,
o elo do arrependimento:
um anel
de compromisso.
Quem sabe o par repouse
em outra mão
com outro louco
que o amor
diagnosticou.
Maurício Cavalheiro – 12/09/2013
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