domingo, 12 de junho de 2016

CREDIÁRIO

Dia 12 de junho. Dia dos namorados.
Sempre achei difícil comprar o presente que superasse ou satisfizesse a expectativa de minhas namoradas.  Nunca fui bom nisso, é verdade. Mas me esforçava: gastava o que podia e o que não podia na vã esperança de, pelo menos, receber um elogio.
Talvez eu tenha escolhido namoradas insensíveis, materialistas, insaciáveis, que sempre queriam mais e mais e mais. Ou, talvez, eu não soubesse mesmo fazer as escolhas certas dos presentes: ramalhetes de flores, bombons, poesias, peças de vestuário, viagens, jantares... Fato é que todos os meus presentes foram recebidos com indisfarçada insatisfação, mas nenhum foi devolvido.
Pensando bem, quem deveria demonstrar insatisfação era eu. Nunca ganhei sequer uma bala. Também nunca me importei com isso. Acredito que o amor não se materializa em presentes, em bobagens efêmeras. O amor é muito mais valioso do que qualquer patrimônio. Se fosse materialista, escolheria namoradas pelo poder aquisitivo delas. Não sou, graças a Deus! Minhas escolhas eram – e ainda são – feitas sob a regência de meu coração.
Hoje fui ao shopping. Cheguei agorinha e resolvi escrever esta crônica. Havia muitas pessoas lá. Observei vários casais entrando e saindo das lojas, comprando mundos e fundos. Dia dos namorados é assim. 
Perambulei sem destino parando diante das vitrines com ofertas irresistíveis de produtos de qualidade. Mas pra que comprar? Mas pra quem comprar? Estou solteiro e não preciso cometer extravagâncias.
Por volta das 12 horas, senti fome.  Foi difícil encontrar um lugar na praça de alimentação. Depois de longa espera, desocuparam a mesa espremida na pilastra. Sentei-me e pedi algo para comer. Enquanto esperava, vi que na mesa ao lado estava uma linda morena de olhos azuis. Era minha ex-namorada, trocando carinhos com um homem muito feio, de caráter duvidoso, mas empresário bem sucedido na cidade. Lembrei-me das últimas palavras que ela me disse ao encerrar o nosso namoro: “A fila anda”. E andou, para ela.  
Assim que me viu, exagerou nos carinhos, beijando o pescoço e as orelhas daquele homem; talvez pensasse que me provocaria ciúmes. Nem um pouco. Mas confesso que fiquei com muita raiva quando ela começou a exibir o anel de brilhantes. Perdi a fome. Levantei-me e cancelei o pedido.
Aquela exibição provocadora me alertou que a verdadeira razão de eu ter ido ao shopping era pagar uma conta. Paguei a antepenúltima parcela e prometi a mim mesmo que nunca mais compraria presentes à prestação. Nem mesmo um anel. Nem mesmo um anel de... brilhantes.


Maurício Cavalheiro
 

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