CREDIÁRIO
Dia 12 de junho. Dia
dos namorados.
Sempre achei difícil
comprar o presente que superasse ou satisfizesse a expectativa de minhas
namoradas. Nunca fui bom nisso, é
verdade. Mas me esforçava: gastava o que podia e o que não podia na vã esperança
de, pelo menos, receber um elogio.
Talvez eu tenha
escolhido namoradas insensíveis, materialistas, insaciáveis, que sempre queriam
mais e mais e mais. Ou, talvez, eu não soubesse mesmo fazer as escolhas certas dos
presentes: ramalhetes de flores, bombons, poesias, peças de
vestuário, viagens, jantares... Fato é que todos os meus presentes foram
recebidos com indisfarçada insatisfação, mas nenhum foi devolvido.
Pensando bem, quem
deveria demonstrar insatisfação era eu. Nunca ganhei sequer uma bala. Também
nunca me importei com isso. Acredito que o amor não se materializa em
presentes, em bobagens efêmeras. O amor é muito mais valioso do que qualquer
patrimônio. Se fosse materialista, escolheria namoradas pelo poder aquisitivo
delas. Não sou, graças a Deus! Minhas escolhas eram – e ainda são – feitas sob
a regência de meu coração.
Hoje fui ao shopping.
Cheguei agorinha e resolvi escrever esta crônica. Havia muitas pessoas lá. Observei
vários casais entrando e saindo das lojas, comprando mundos e fundos. Dia dos
namorados é assim.
Perambulei sem
destino parando diante das vitrines com ofertas irresistíveis de produtos de
qualidade. Mas pra que comprar? Mas pra quem comprar? Estou solteiro e não
preciso cometer extravagâncias.
Por volta das 12 horas,
senti fome. Foi difícil encontrar um
lugar na praça de alimentação. Depois de longa espera, desocuparam a mesa
espremida na pilastra. Sentei-me e pedi algo para comer. Enquanto esperava, vi
que na mesa ao lado estava uma linda morena de olhos azuis. Era minha ex-namorada,
trocando carinhos com um homem muito feio, de caráter duvidoso, mas empresário
bem sucedido na cidade. Lembrei-me das últimas palavras que ela me disse ao encerrar
o nosso namoro: “A fila anda”. E andou, para ela.
Assim que me viu,
exagerou nos carinhos, beijando o pescoço e as orelhas daquele homem; talvez
pensasse que me provocaria ciúmes. Nem um pouco. Mas confesso que fiquei com
muita raiva quando ela começou a exibir o anel de brilhantes. Perdi a fome.
Levantei-me e cancelei o pedido.
Aquela exibição
provocadora me alertou que a verdadeira razão de eu ter ido ao shopping era pagar
uma conta. Paguei a antepenúltima parcela e prometi a mim mesmo que nunca mais
compraria presentes à prestação. Nem mesmo um anel. Nem mesmo um anel de...
brilhantes.
Maurício Cavalheiro